sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DO FRANKENSTEIN AO CIBORG: TECNOLOGIAS PÓS-HUMANAS

Por Mayana Soares[1]

Esta reflexão precisa começar a partir de alguns questionamentos: existe o “sujeito” puramente humano? Há uma fronteira que separa humanidade e natureza? É possível existir “pureza” na existência humana? Humano e máquina possuem existências distintas?

Marca-passo, lentes de contato para aumento visual, próteses que substituem membros, silicone, tecido humano desenvolvido a partir da nanotecnologia, chip de identificação biométrica... A existência dos clones, dos ciborgues, dos híbridos, etc, tem colocado em xeque a “soberania” humana e relevado que não há pureza na experiência humana, nem pós-humana. Dentre as grandes revoluções que marcaram os séculos 20 e 21, sem sombra de dúvidas, a revolução dos ciborgues foi uma das mais consideráveis. A relação entre “seres humanos” e “máquinas” sempre existiu e nunca foi tão evidente como agora. A concepção de “sujeito”, supostamente superior a tudo o que se denomina “não-humano”, tem subjulgado toda e qualquer forma de existência humana que não se enquadre em suas categorias funcionais e ontológicas.

A severa divisão imposta entre a humanidade e tecnologia tem contribuído para a criação de discursos, amparados pela ciência, medicina e pelo direito, que aprisionam corpos e mentes numa estrutura fixa, cuja ruptura é, geralmente, considerada anormal, desviante, abjeta.
Gilles Deleuze, filósofo francês, afirma que a existência humana é atravessada por tudo o que existe (pessoas, plantas, energia, animais, máquinas, etc, etc) e, por isso, considera que o corpo é uma máquina, mas não numa perspectiva funcionalista, e sim, no sentido de permitir variadas conexões, pois permite o fluxo de desejos e de intensidades. Também, Donna Haraway, feminista e estudiosa da tecnociência, concorda que o ciborgue é a encarnação humano + máquina, que tem contribuído para repensar a noção essencialista do “ser humano”. Segundo esta autora, “A tecnologia não é neutra. Estamos dentro daquilo que fazemos e aquilo que fazemos está dentro de nós. Vivemos em um mundo de conexões – e é importante saber quem é que é feito e desfeito.”.

Se a existência humana é criada e recriada a todo o momento não é possível crer em unidades separadas (sujeitos), com uma existência superior e independente de tudo o mais que há. Uma das críticas aos pós-humanos, humanos-máquinas, é que a sua experiência é uma imitação da vida humana. Mas, em que medida a experiência humana não é uma imitação, criação ou recriação de outrem?

As experiências pós-humanas (ciborgues, seres trans, clones, híbridos, entre outros) têm contribuído para repensar e questionar pressupostos tão bem consolidados ao longo dos tempos da inevitabilidade da superioridade humana em detrimento de outras possibilidades de existência. Com as inovações tecnológicas, é possível remodelar corpos, reinventar a humanidade e ultrapassar a barreira fixa que nos limita a uma existência desconectada e sem pulsação.

Assim, deixo as últimas linhas para Donna Haraway, que nos permite mais uma reflexão:
“Se as mulheres (e os homens) não são naturais, mas construídos, tal como um ciborgue, então, dados os instrumentos adequados, todos nós podemos ser reconstruídos”.


Referências

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquisofrenia. v. 2. São Paulo: Editora 34, 1995. Coleção TRNS.

HARAWAY, D. Antropologia do cirborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.



[1] Especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens. Possui graduação em Letras com Língua Espanhola. Atualmente, é professora, técnica educacional, pesquisadora no Núcleo de Pesquisa Estudos Culturais (NPEC) e participa do grupo de pesquisa Cultura e Sociedade (CUS). myrs_84@hotmail.com.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012



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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

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