Simone dos Santos Borges[2]
O filme
“O Corpo” (The Body), dirigido por Jonas McCord e estrelado por Antonio Bandeiras
e Olivia Williams, lançado no ano de 2001, traz a tona uma discussão sobre
religião (pensando esta enquanto uma instituição dotada de dogmas e regras a
serem seguidas), fé (manifestação da vontade do indivíduo sobre o fenômeno
sobrenatural e para este sagrado, portanto inconteste), política e
identificação com o patrimônio cultural construído e difundido pela tradição
através dos séculos.
A
partir da descoberta arqueológica de um corpo crucificado ao estilo romano
datado, aproximadamente, do ano de 32 d.C. em Jerusalém, cientistas e
religiosos travam uma batalha sobre as questões que envolvem o maior milagre do
cristianismo, para os fiéis dessa religião: a ressurreição de Jesus Cristo.
O
fato do filme se passar em Jerusalém nos permite refletir sobre a importância
desta cidade para as três grandes religiões, denominadas de reveladas,
Islamismo, Judaísmo e Cristianismo. Uma cidade Santa, para ambos os grupos religioso,
e também, local que suscita a emergência do poder, da eminência de um Estado
Teocrático, e da afirmação da predilescência política, de uma das três grandes
religiões no cenário internacional, do ponto de vista da revelação da verdade
sobre a fé, é pano de fundo neste filme.
Destruir
ou não a fé cristã, representada no filme pela sua vertente católica, é a
discussão central, para a Igreja Cristã, nunca houve e nunca haverá um corpo,
pois tradições são criadas, recriadas e desaparecem de acordo com os desejos e
ansiedades sociais daqueles (as) que as criam.
A instituição e a fé se confundem diversas
vezes nessa representação fílmica, para as personagens que representam as
instâncias do poder político-religioso:
“isto não vai ser o fim do Cristianismo ou da
Igreja Católica... a religião não se baseia num sistema racional de provas,
sobrevive pela necessidade humana. Se apresentarmos provas de que Cristo não
ressuscitou, os que acreditam que sim, não acreditaram em nós. Alguns podem
desaparecer, mas sabes que mais? Acho que o Cristianismo vai sobreviver.”
Tal
afirmação, apresentada no longa aqui analisado, acredito ser colocada desta
maneira, pelo fato do fenômeno da fé, por mais que beba da fonte
institucionalizada, ser algo inerente as necessidades do individuo, que por
vezes perpassa as instâncias coletivas.
Assim,
para o fiel não há necessidade de visualizar as implicações epistemológicas que
envolvem a ressurreição de Cristo, cabe a ele apenas entender que este
intercede por ele (a) nas horas da necessidade, se não for nessa vida, será em
outra. As pessoas precisam de curas, esperanças, milagres, respostas, etc. por
isso, buscam as religiões. Que exercem este papel de conforto de maneira moral,
lícita e aceitável por todos.
Outro
ponto relevante é a discussão que se forma em torno da bíblia, a própria
ciência a admitiu como um revelador da verdade, em todo filme, assim como na
nossa vida cotidiana a prova da existência de Cristo se dá pelas escrituras dos
evangelhos, tal como só temos conhecimento de Sócrates através de Platão.
Muitos dos que se dizem cientistas negariam de pronto a veracidade das
informações ali contidas, mas para os historiadores da antiguidade é um livro
que contém, informações sobre a fundação dos Estados, técnicas de agricultura,
comércio, pecuária, enfim, informações sobre o processo de civilizatório da
humanidade, sobre as invenções mais remotas. Portanto, válido e justo, tomar
como premissa as informações ali contidas sobre a vida e morte, período e época
em este viveu.
Assim,
cabe encerrar esse debate com as mesmas reflexões que o pe. Gutierrez (personagem
principal) chega ao final desse belíssimo longa metragem:
- Ter o Estado de Israel envolvido em algo tão potencialmente perigoso para a Fé Cristã poderia ter sérias repercussões para nós (discurso das personagens palestinas).
- Este não é o corpo de Cristo (discurso da igreja cristã católica).
- Quando o Vaticano reconhecer uma Jerusalém una, como capital de Israel... as ossadas serão libertadas (discurso das personagens judias).
- Deus não tem lugar na política (Pe. Gutierrez).
- Cristo disse que a verdade liberta. A verdade libertá-lo-á, Matt (discurso da ciência).
[1] João Cap. 19, Vs. 29
[2]Especialista em História da
Bahia, possuí graduação em História, é graduanda em Ciências Sociais, integrante
do Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, é professora da educação básica da
rede particular de ensino em Salvador, e atua como bolsista PIBIC, sob orientação
da Profª Drª Paula Barreto, do projeto de pesquisa "Mecanismos de desigualdade adscritiva, cultura e ensino superior no Brasil: os casos da Universidade Federal da Bahia e da UNIFACS” na UFBA.