quinta-feira, 31 de maio de 2012

Trilhas Culturais: Gêneros e Sexualidades


No dia 14 de Abril o Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais, NPEC, deu início a segunda temporada do Trilhas Culturais. Evento promovido com o intuito de debater temáticas as linhas de pesquisa do grupo.
No mês de Maio o Trilhas Culturais debateu temáticas ligada à linha de Gêneros e Sexualidades com as pesquisadoras Saoara Sotero e Mayana Soares. Duas adeptas da Teoria Queer, elas trouxeram para a luz da discussão, sob a perspectiva Queer temas considerados abjetos no meio acadêmico, como corpo como lócus performático, LGBT, gêneros, sexualidades, feminismo, relações, prazeres e práticas sexuais dissidentes. O termo queer era utilizado nos EUA de forma ofensiva contra os gays, no início dos anos 80 uma série de pesquisadores iniciou a teoria tomando para si o termo queer esvaziando-o do sentido negativo que tinha e criando uma categoria que pudesse compreender o mundo marginalizado das sexualidades dissidentes, ou seja, aquela que não está nos padrões estabelecidos socialmente como corretos. Não há uma tradução específica do termo para o português, mas segundo Louro (2004) o termo pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro, extraordinário”. A teoria queer não tem o objetivo de se tornar uma identidade, pelo contrário, a identidade tem um caráter normativo a medida que o sujeito precisa afirmar determinadas bandeiras. A teoria Queer defende que o sujeito social esta em constante transformação, portanto não pode estar conformado em determinados padrões que o impedem de expressar suas múltiplas formas de ser e estar.
Dentro desta perspectiva, no dia 19 de maio de 2012 a pesquisadora Saoara Sotero exibiu o filme Delta de Vênus. Esta obra é baseada no livro de contos erótico de Anais Nin. A autora foi diretamente influenciada pelas teorias freudianas no início do século XX, pela produção erótica da época e a cultura de produzir contos erótico sob encomenda, sendo esta última característica a origem do livro que da vida ao filme e não por coincidência é um atributo da protagonista do filme, assim, os contos são obras fictícias e ao mesmo tempo autobiográficas. O filme faz uma compilação dos diversos contos do livro e mostra a busca de sua protagonista, Elena, pela sua descoberta sexual, explorando as múltiplas possibilidades de sua autorrealização sexual. Esta descoberta ocorre depois de uma decepção amorosa e de um amor romântico idealizado e de ser provocada a escrever sobre sexo. Elena se permite explora seus desejos sexuais se tornando uma mulher consciente de sua sexualidade e de sua capacidade de se realizar sexualmente fora de um relacionamento monogâmico. Após o filme foram debatidos categorias fundamentais como gêneros, sexualidades, práticas sexuais dissidentes, autorrealização sexual e poliamor, sob a perspectiva queer e de autor@s como Butle e Benítez.
No dia 19 de maio de 2012 foi a vez de a pesquisadora Mayana Soares dirigir o debate a partir da exibição da entrevista do cartunista Laerte Coutinho ao programa Roda Viva. Laerte gerou polêmica ao aderir a indumentária feminina, e ao tentar, sem sucesso, usar o banheiro feminino em uma lanchonete, rompendo, pois, com os padrões sociais do que deve ser o comportamento masculino e feminino.
O cartunista foi submetido por quase duas horas a questionamentos sobre seu trabalho, mas o assunto principal girou em torno do fato de estar transgênero.
Durante a entrevista ficou visível o quanto os debatedores ficaram desestabilizados, sem saber como dialogar ou como se referir a Laerte. A forma “transitiva” como o convidado se põe, de se permitir experimentar as possibilidades existentes chocou os amigos que convive com ele há anos.
Através desta entrevista foi possível o debate, dirigido por Mayana Soares, das construções sociais a cerca de gêneros e da divisão binária, masculino e feminino, e dos papeis afetivos, comportamentais, psicológicos que são estabelecidos para casa um, divididos a partir da genitália. Entendendo esta questão pela teoria queer Laerte subverte a linha coerente da sexualidade que estabelece o gênero e o sexo a partir da genitália, masculino/homem, feminino/mulher, o desejo sexual que deve ser pelo sexo oposto e ter uma prática sexual heterossexual.
A linha de pesquisa Gêneros e Sexualidades cumpriu de forma louvável o seu objetivo de por em debate e de (re) formular concepções normatizadas e naturalizadas pela sociedade, quebrando com os paradigmas hierárquicos que constitui as relações sociais.